I Concurso Literário Benfazeja

O Certo Da Vida e outros poemas



de Fernanda Tinoco Ramos



O certo da vida

Não gosto das horas certas, precisas, bem ajustadas,
meio-dia, meia-noite,
“te vejo às 8 às 22 às 15 horas”.
A vida não é feita de horas certas
mas de atrasos e adiantamentos –
não atrasos exatos: de 5, 10 ou 15 minutos –
de atrasos frouxos... 7, 18, 22 minutos...

Não gosto das horas certas,
elas só funcionam nos contos de fadas
(“À meia-noite a carruagem vira abóbora.”),
na vida do dia a dia as horas são soltas
tudo é imprevisível:
o trânsito, o humor, o clima,
os encontros (desencontros)


(...)


e também a rima (E não é que ela veio?!).

Tá bom, a hora certa talvez exista no Reino Unido;
já nos outros cantos a hora certa
não é a do relógio
é a hora do destino. Destino?
Ou será a hora da leveza?
Talvez seja.

Desconfio dos planos infalíveis
com prazos e termos finais,
me parecem muito instáveis.
A hora certa não é
meio-dia, meia-noite; nem
“te vejo às 8 às 22 às 15 horas”.
A hora certa é aquela que tinha que ser.

A vida é feita do que tinha que ser
e não do que teria sido.





"Parking"


Sem mais a intenção
de chegar antes da hora
por agora parei em ponto morto
em zona confortavelmente indolor
onde descansa em paz sua imagem
no ponto cego do meu retrovisor.




(Sem título)

Não existem palavras suficientes
nos dicionários.
Preciso de todos os pingos nos is
todas as letras
todos os hifens e tremas
da antiga ortografia
reunidos em pratos limpos
para devorá-los e quem sabe
conseguir meia palavra que seja
capaz de expressar essa sensação
não batizada.
Queria subir no palanque e falar
pra todo mundo
que a partir de hoje
essa sensação tem nome
e acabar de vez
com esse nó na garganta.
Bom seria ter respostas
na ponta da língua que acalmassem
a boca do estômago!
Mas não as tenho
faz tempo que não me ocorre nada
além do recurso de
engolir em seco e gritar
debaixo d’água

Fernanda Tinoco Ramos
é advogada e criadora do blog "O vento é um evento". Apaixonada pelas palavras, tem por hobby poetizar!.

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Créditos da imagem:
Flor do asfalto, por Leonardo Etero (http://www.artmazone.org/Leonardo-Etero)

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