I Concurso Literário Benfazeja

Sobre o que ganhamos quando crescemos




De repente você descobre que a vida é muito melhor do que você supõe. E que você é capaz de se libertar dos seus próprios fantasmas, quando decide desligar-se fisicamente e emocionalmente daquilo que só te traz desesperança. Não é fácil romper com aquilo que um dia foi importante, mas não há como seguir adiante estando amarrado às ilusões. Isso é amadurecimento. Quem não sabe por um ponto final no momento certo, dificilmente será capaz de virar uma página para escrever outra. Alimentar uma ilusão é viver a vida em reticências, onde nada se conclui e qualquer coisa pode ser rabiscada nas páginas vazias da existência. É assim que se perde o sentido da própria vida. E perder o sentido da própria vida é o mesmo que perder a identidade. E pior, é habituar-se a uma vida aleatória, abandonada ao acaso, deixando nas mãos dele o direcionamento. Depois, vem o sofrimento e aquilo que ele desperta em nós: autopiedade. A autopiedade é uma prisão, onde encarceramos a nossa fertilidade e qualquer possibilidade de gestar um novo futuro. A autopiedade é limitadora e nos joga para baixo. É um porão existencial onde acumulamos emoções mal administradas, que não servem nem para os nossos desafetos. Viver sentindo compaixão por si mesmo é aprisionar a própria liberdade - que tem por necessidade e fundamento, o seguir adiante. A liberdade precisa disto: espaço para ser. Quando sentimos pena de nós, dos nossos infortúnios, vamos perdendo espaço. Tudo fica apertado demais. Os sentimentos sufocam e isso só reforça as nossas fraquezas. Ao invés de identificar no meio delas pontos favoráveis que possibilitem um novo jeito de viver, escolhemos alimentá-las contabilizando fracassos. Ser frágil, enfraquecer, fracassar, não torna ninguém pior, nem menos interessante. Pelo contrário, só enfraquece, quem, por força e coragem, assume riscos enquanto vive. E só perde aquele que ganha. Mas, para quem ainda não entendeu a regra do jogo, perder significa fim de linha... Equívocos de alma que se apequena quando se fere.

A vida é maior do que aquilo que vemos. O problema é que vemos pouco e vivemos esperando muito da vida, vivemos esperando muito do outro, e isso só alimenta os nossos vazios. Sabedoria é esperar menos e fazer mais. Conjugar o verbo esperançar ao invés de manter a esperança inerte, presa a uma espera. Simples, não? Quando esperamos muito e desejamos muitas coisas ao mesmo tempo, perdemos o foco e as necessidades da vida não se concluem. E assim aumentamos os vazios existenciais. Quanto maior a sofisticação que atribuímos aos sonhos, mais difícil será tocá-los. É preciso sonhar o realizável, o possível, ainda que o impossível surpreendentemente aconteça. A verdade é que as coisas mudam quando a gente muda. Tão simples. Tão clichê. Mas tão real quanto a própria realidade. E aí você entende que pode fazer da vida algo maior e melhor, quando resolve esquecer o que perdeu e passa a perceber o que ganhou. Olhar somente para as perdas torna o em-torno-de-nós invisível. É preciso ir além. É preciso ver além. Há tanta coisa inexplicável que acontece na vida da gente que, se pararmos para buscar explicações isoladas sobre o que não aconteceu, acabamos paralisados ou enrolados em uma teia de possibilidades infinitas. Eu deixei de buscar explicações e motivos nos outros, porque quero ir além, porque decidi acordar e resgatar, apenas, o que faz sentido para mim, mesmo não havendo razão nenhuma. E sem medo. O autoconhecimento só é possível quando despertamos a consciência para o que acontece dentro de nós. Quando sabemos os nossos limites. Através da consciência, entramos no porão existencial, acendemos a luz e liberamos os fantasmas aprisionados pelo medo de descobrir-se. Ter consciência sobre o que somos e sobre o que existe fora de nós, é uma forma de retomar o controle sobre a nossa própria vida e sobre as coisas que nos afetam, direta e indiretamente. Isso é liberdade! A consciência é o caminho que a mente delineou para despertar em nós a reflexão. Só assim, através da reflexão e da análise das nossas experiências, temos a dimensão exata de cada processo que nos compõe, de cada sensação que manifesta em nós um posicionamento diante do mundo. Não há evolução sem conhecimento. Não há liberdade sem autoconhecimento. Não há crescimento sem autocrítica. É assim que resgatamos em nós a beleza das nossas experiências, sendo elas boas ou ruins. É assim que nos desenvolvemos emocionalmente e crescemos, também.

Contudo, para compreendermos a nossa própria história, precisamos de tempo. Precisamos de solidão. De dor. E coragem. Muita coragem para romper todos os elos. Para olhar o que está fora e, ainda assim, desejar mergulhar para dentro. Para se despedir, sem olhar para trás, e reconstruir o tecido de nossa vida com os retalhos que fizemos dela, costurando aos poucos cada retalho até que tudo se restabeleça. E aí, de um jeito simples, reconhecemos que a vida é muito maior do que supomos e que nós podemos ser também.

Depois que eu perdi algumas batalhas, descobri a potência que há no realizável, que tudo pode ser muito simples e o quanto eu ganhei com isso. Descobri que a simplicidade nas nossas escolhas é a chave para uma vida menos dolorida e vazia. Sim, podemos ser simples nas nossas escolhas. Podemos ser simples nas nossas expectativas. Podemos ser simples. A simplicidade abre portas.

Como disse Benjamin Disraeli, “a vida é muito curta para ser pequena”. E mesmo achando que ela não tem sentido algum além do próprio processo de viver, podemos enriquecê-la com as nossas experiências. Mesmo tendo a consciência sobre o indeterminável que contabiliza o nosso tempo, Carpe Diem! Joguemos as nossas sementes na terra fértil da vida, diariamente. Nada como um dia após o outro. Não somos duráveis, mas podemos ser inesquecíveis. Eu quero ser inesquecível.

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Créditos da imagem: (pode deixar que eu preencho isso)
So pretty

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