Concupiscência
"Eu quero morrer de noite
Bem longe, numa tocaia
Eu quero morrer de açoite
Dos bordados de tua saia"
(Jorge Amado - Terras do Sem Fim)
A luz do sol varava janela e cortina. Não mais que uma meia dúzia de dedos brilhantes se esticavam retalhando a escuridão do quarto. Uma das retas luminosas flechava o seu corpo estendido confortavelmente sobre a cama, mal coberto pelos lençóis. O feixe dourado corria pelas suas costas nuas, deslizando suavemente sobre a pele escura. Mergulhava lasciva pela região lombar, para emergir espalhada pelas tenras curvas de suas nádegas e suas coxas.
Devagar, evitando cometer movimentos bruscos - para além do romantismo, por causa da bebida a mais na noite anterior -, cheguei meu corpo junto ao dela. Pousei gentilmente a mão sobre a sua perna, correndo, primeiro os dedos, pela maciez da sua panturrilha. Toquei com os lábios os finíssimos fios de cabelo que nasciam já da sua nuca, deixando que a respiração escorresse da minha boca. Com as pontas dos dentes, arranhei seu pescoço em direção à clavícula. No caminho de volta, corri a ponta da língua até sua orelha. Subi a mão à sua coxa de pelos então eriçados e apertei a carne firme, macia. Ela virou-se. Enfiou a língua na minha boca e correu a mão entre as minhas pernas. Segurou firme e me olhou fundo nos olhos, como se me desafiasse.
De repente embalava-nos o som da nossa respiração entrecortada e ofegante, como se o ar não bastasse para encher o vazio do peito. E de fato não bastava. Era preciso mais. Era preciso o calor do suor, eram precisos os corpos colados a força, como se buscassem ser apenas um. Era preciso o aperto firme, que me fazia seu prisioneiro, como ela a minha. O abraço das línguas, a dança dos lábios. Eram precisas as mordidas, os palavrões sussurrados no ouvido.
Seu sexo pulsante desejava violência e sua umidade me escorria pelo queixo, através da barba, que conservava seu perfume. Transpassei-lhe as carnes pudendas com o membro duro. Forcei a boca contra a sua, sufocando um gemido que, confesso, não sabia dizer se era de dor. Forcei mais uma vez o púbis, num movimento brusco. Ela cravou as unhas nas minhas costas, colou os lábios no meu ouvido e pediu: "Mais forte." Atendi o pedido. Ela enlaçou minha cintura com as pernas, num abraço firme, me prendendo lá no fundo. De sua garganta explodiu um grito de volúpia. Segurei firme nos dois lados de sua bacia e virei seu corpo de bruços. Escorreguei o pau pelo suor das carnes glúteas sem grande dificuldade, com fúria. Ela abraçou o travesseiro e mordeu com força.
Quando o sêmen verteu, lambuzei-lhe as nádegas. Ela esparramou o corpo na cama, entregue à frouxidão do cansaço. Eu arfava e bufava. Deixei o corpo cair ao lado dela e sorri: "Bom dia." Ela arreganhou os dentes, divertida: "Bom dia." E ao ver mulher tão linda estendida nos meu lençóis, pensei que não há de existir no mundo melhor maneira de começar um domingo de manhã. Admirei mais uma vez seu corpo esculpido em ébano e calculei se valia a pena estragar o momento lhe perguntando seu nome.
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Créditos da imagem:
(fonte: imageofmind)
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