Poemas, pelo escritor convidado:
ESPACO ÚTIL
há de se repensar
uma sala living para este diálogo
(este dia logo acaba
na imagem do hall)
de se repensar um
espaço maior neste lavabo
para que este diálogo de gritos e sombras inventadas
possa em cada agressão verbal
circular todos os cômodos
como um fio de espuma entre seus orificios
ORGASMO
teus braços
os corpos suados
ilhados nus
sem cabaço
virtude escancarada
amantes ácidos
luas de álcool embebedam-nos de estrelas
não sei se gozo permanentemente em teu cio
ou se me encolho no teu ventre
tenho agora
o rosto cortado em tuas pernas
e pentelhos espalhados nos
hemisférios do quarto
somos tipo medialuz
sob chibata
neste País violáceo
onde se bebe a lama dos
sapatos
Evoé Baco
brinda-se cumpra-se o orgasmo
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SANGUE LATRINO
(l)
minha presença corre nas veias córregos de esgoto
escorrida de terra esta terra nos meus pés de cimen
to fronteirisso inventando rastros poéticos no mast
ro da massa do cérebro (e me danificando) finco v
eios e vínculos no centro esférico (ou meramente
paralelos) do prisma pensante-energético-ético; m
ergulho gulho seu liquido brilho-gelatinoso e da f
ace decompositória bruta surge um processo intert
extual de imposto editorial que morre no bolso cif
rário do próximo então que se diga que por si só o
TEXTO
inflamatório resoluto e decadente
comprime-se dentro e profundamente
cauterizado no sangue da lira
BRASILIENSES
destilando palavras em larvas de gente
levas de gente
do Anhangabaú ao Oiapoque
ao Chauí
um traçado de parábolas
poéticas monetárias
custeando a vida
na razão proporcional de tantas urinas
acentuadas pelas manhãs
acetinadas manhãs assolando meu País
(ll)
minha presença paisística tropical
na miséria séria e comprometida
sombra e miséria aglutinadas
de censo registrado no poema
visceragudo (de vidro-estilete)
o duplo corte
POVOAMÉRICA
de veias latinas
SANGUE LATRINO
ponderadamente me nego a este País
masturbadamente contudo
com povo e
tudo ovo e
todo pão e
salário
registra-se
O POEMA LATRINO
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CONSIDERAÇÕES GENÉTICAS SOBRE
ESTADO POÉTICO E
OU PSICOSUICIDIO
MÃE DOS CÉUS
beijo brejo de todos os tolos
eu o outro levito do chão – oh, minha bela
puta vida
pernas no asfalto esperando o próximo
ônibus
o que há a te oferecer, mulher, além de fel
pus sangue e dejeto?
quarenta e seis cromossomos?
fumos de corda sexo cordão de prata?
meu esperma?
NADA
nos jardins de minha infância
repletos de calendários diários
e fotos de mulheres nuas
de Ivete nem me lembro
de bicicleta só o cheiro de pão e chiclete
se fui traído foi distraído pelo forte odor
das lembranças queimadas, muitas,
como das formigas comidas, dos cigarros engolidos
e paixões engasgadas
MÃE DOS CÉUS
agora o dente caído já não tem mais a ver
com as putas conhecidas
ou os cavalos errantes
estas velhas coisas trabalhadas
agonizantes
são-me agora fosseis
porões de beleza pura defuntada
e eu, o outro
oh, minha bela puta vida cansada
*
Crédito da imagem:
Face Negra, por Wellington Souza
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