I Concurso Literário Benfazeja

Fragmentação do Sujeito

Teoria literária, Por Rosane Tesch 


Numa exposição de Picasso, li uma observação sua, se é que assim poderia ser chamada, em que comparava a arte moderna, ou sua forma de expressão, ao surgimento da fotografia.

Para Picasso, tudo o que a arte representava, até então, mais especificamente a pintura, era uma versão (única) do que seria o real. Ou seja, o que se pretendia com as telas era retratar a realidade e registrá-la. Com a invenção da fotografia não seria mais necessária a simples reprodução do real, pela arte.


Suas palavras: “(...) a fotografia chegou na hora certa para liberar a pintura de qualquer literatura anedota, e até do tema, (...) e fixar, fotograficamente, não etapas de um quadro mas suas metamorfoses.”

É isso! A modernidade abre espaço para os múltiplos olhares, as várias e variadas visões, onde o conceito de verdade, ou de real, assume não uma, mas várias formas. Nenhuma verdadeira, mas possível verdade dentre tantas. Nada mais é uno, e tudo é parte do domínio humano, cuja florescência está no próprio ser humano. E nas máquinas, capazes de sustentar o próprio homem e sua direção rumo ao infinito.

Quando nos deparamos com a obra de Fernando Pessoa, percebemos o quanto é importante, exatamente, essas “outras formas”. Sair do conceito de “eu”, como sujeito, pensante, único e subjetivo para o enveredamento na multiplicidade. Poderíamos pensar: se é certo que temos várias formas de ver as coisas, também é certo que essas formas, todas, devam e precisam ser mostradas. Várias visões de mundo, vários ângulos a serem vistos, dentro de cada visão de mundo.

Imagem: Rosane Tesch
A obra de Pessoa, não só expressa a transição do conceito sobre o que é ou não “verdade” como alimenta o desejo da descoberta de várias verdades. Ele mesmo, e seus heterônimos e pseudônimos, não necessitam ou carecem de explicação, é o pessoal o que menos importa. Sentir tudo de todas as maneiras, isto sim, é o importante. Importante no sentido moderno do termo “despersonalização”, esta mesma, que praticamos hoje, em pleno século XXI.



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2 comentários:

  1. Olá, Rosane! Eu creio que quanto mais o homem amplia suas possibilidades em função de novos conhecimentos mais ele se afasta de algumas verdades, ou axiomas e mais se aproxima de outras verdades também, diante de sua finitude. E aí, põe ainda mais subjetividades nas verdades ou novos conceitos que vai criando. O pensador , o poeta, o artista, estes sim, é ue fragmentam mais o humano através de seu olhar sensível. Uma opinião apenas. Adorei a sua abordagem.Abraços. Paz e bem.

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  2. Rosane,
    Adorei a sua abordagem. Concisa e coerente. De fato, a Literatura nos abre várias perspectivas de visualizar o que queremosa e necesitamos chamar de verdades. a imagem nos remonta a idéia do eu fragmentado por seus conceitos e visões de mundo. Sua fragmnentação do sujeito é sensível ás questões teóricas da literatura, mas també, pertinentes no que que diz respeito ao seu tratado teórico.
    Espero que nos brinde cada vez mais com textos coesos e ricos de reflexões.

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