Poemas, Marcio Rufino
Poemas, por Márcio Rufino.
O Amor me pegou
O Amor me pegou
Entre solidão e música romântica
Entre meu quarto e minha cama.
Quando de repente
Me lembrei da primeira vez
Que vi seu rosto
De repente me vejo aqui
Com esse leão feroz
Querendo saltar de dentro do meu peito.
Que vai dar no mar
Que nos levará para uma ilha
feita para nós dois.
Guardada por um deus grego
E uma santa católica
Que se compadeceram
Da sinceridade do meu amor.
Será que você não vê
Que meu coração
è uma baleia gigante
Que ondula, pula e salta
De cabeça para o rabo
Num mar de bem-querer.
Mas eu fico aqui nesse quarto
Totalmente exilado, alienado, separado
Desse mundo que não se cansa
De correr lá fora.
Dessa gente que não se cansa de andar lá fora.
Não quero que minha solidão me enterre em terra frouxa
Me comendo da carne em incerteza
Que é a destruição.
Mas me conduza em estradas iluminadas
Por noites escuras de lua e estrelas
Que é a paixão.
Bendito seja seu rosto vermelho
De vergonha e charme.
Bendito seja seu olhar infantil
De inocência e arte.
Ainda hei de ver chegar o dia ou a noite
Em que numa mesa de bar
Ou numa festinha de estar
Chegaremos juntos
Passo a passo
Palavra a palavra
A verdadeira razão espontânea de sentimentos.
Não quero que minha loucura
Faça com que minhas unhas e meus dentes
Me estraçalhem vivo
Que é a morte.
Mas faça com que meus lábios e minha língua
Percorram os pelos do seu corpo
Sugando a sua energia
Que é a sorte.
Maldito seja todo o rosto pálido
De hipocrisia e maldade.
Maldito seja todo olhar frio
De ironia e falsidade.
Ainda hei de ver chegar a tarde ou a madrugada
Em que você vai me ver
Como uma pessoa
Que te quer muito amor
Que não é só um corpo
Capaz de dançar
Mas de fazer música.
Não é só capaz de comer
Mas de sentir fome.
E aí você vai entender
A razão do que eu digo
Pois é com muito orgulho
Que eu grito
Com todas as minhas vísceras
Que o Amor me pegou.
E é ele quem me abre o coração
Para você passar
Assim como Moisés abriu o Mar Vermelho
Para o povo hebreu caminhar.
É por isso que eu sou seu
Mesmo que você não queira.
É por isso que você me domina
Mesmo que não me deseje.
Agora cala minha boca.
Não quero mais falar.
Não quero mais te olhar.
Não quero mais traduzir em versos
Tudo que os meus olhos lhe revelam
E meu coração pensa.
Tudo que minha boca insulta
E meu pensamento pulsa.
Já que esse amor não morre.
Renasce em outro crepúsculo,
Percorrendo outros músculos
Em poucos minutos,
De um tempo minúsculo de se querer.
Cresce em reflexos
Num mundo circunflexo
De dias perplexos
De sentido sem nexo de se viver.
Se reproduz desesperado
Num momento exato
De corações apertados
E sentimentos frustrados de se esperar.
Morre em braços duros
De homens maduros
De pensamentos obscuros
e corpos profundos de se entregar.
Juntos
E juntos éramos uma geração,
uma revolução,uma interrogação.
E juntos éramos uma história,
uma trajetória, uma glória.
E juntos éramos uma aventura,
uma postura,
uma fratura exposta em pleno ocidente nacional.
E eu era apenas uma criança,
uma esperança de um futuro melhor.
Que ainda nem sabia que todo amanhã vira hoje,
para depois morrer como ontem
e renascer como anteontem.
Um curumim, que, coitado,
achava que só porque era começo,
nunca seria meio nem fim.
Um neném,
um alguém que nada sabia da vida,
porém, achava que alguma coisa da vida sabia além.
Quando eu olhava para o céu cor de anil,
você passou e nem me viu.
Pertubando toda minha calma.
Não sou Lázaro,
mas alguns vira-latas já lamberam minhas feridas d'alma.
Alma essa que me enxerga sem me ver,
que me saboreia sem sentir meu gosto,
que me masturba sem me tocar,
que me enlouquece lucidamente.
Eu, então, passei a te perseguir.
Há duas horas digo que vou embora
mas continuo aqui.
Às vezes acho
que você é uma pequena grandeza,
já que sei muito bem
que para o amor
não se põe mesa.
Mas de repente, eu caio do cavalo.
Chorar? Em que ombro?
Já que a sensação de estar caindo
é mil vezes pior do que a dor do tombo?
Me xingo, me humilho,
me rasgo, me ajoelho,
me olho no espelho
ou leio um livro de Paulo Coelho.
Mas eu fico na minha.
Você fica na sua.
Uma inspiração me cobra
A criação que na verdade é sua.
Passeamos embaixo da terra,
Em cima do cèu,
Dentro do mar.
Viajamos na frente do ônibus,
Submerso ao navio,
Rasante ao avião,
Tudo é um só coração.
Olho para trás não há ninguém,
Nenhuma pessoa, nenhum espírito, nenhum perispírito,
Nenhum sinistro coelho nos roendo a carne como legume.
E será que chegamos lá?
Será que vamos alcançar
algum rabo de cometa?
Alguma hélice de helicóptero?
Alguma asa de beija-flor?
Algum canto do sabiá?
Só Deus o saberá.
E juntos éramos uma luta, uma abertura, uma cultura.
E juntos éramos uma dinastia, uma energia, pura poesia.
E juntos éramos uma ilusão, uma consagração,
verdadeira fusão da realidade com a paixão
no Brasil da minha imaginação.
*
Crédito da imagem:
A luz de Deus, por João Monteiro
Nenhum comentário