A Fênix

Crônica, por Mariana Collares

Fui ao cabeleireiro resgatar a fênix. Fato: quando uma mulher muda radicalmente o cabelo é porque já rompeu com alguns bons obstáculos dentro dela. Então externa desse jeito. Normalmente a ansiedade se traduz em comida, ou em consumo. A depressão afasta a fome. E o rompimento de algumas barreiras se reflete em “auto-estima” – essa que se mostra pra fora, que compra um bom creme para o corpo ou muda o visual. Algo mudou – isso é certo – e foi em mim. Bem bom. Por isso digo que vou resgatar a Fênix, porque reciclar-se é preciso. E eu, como todo mundo, acho, sou uma sobrevivente. Não são só naufrágios, são terremotos internos. Todo mundo tem uma história triste pra contar. Se não tiver tá no planeta errado. É um E.T e foi esquecido aqui. Ou é psicótico e não tá entendendo nadinha do que tá rolando na volta.

E então vem a tsunami e alaga tudo o que é tipo de sentimento. Se a gente efetivamente chora ou não é detalhe. As tsunamis são choros internos ou externos. E quando nos inundam é porque já “entendemos” (nem que seja subconscientemente) o que nos abalou. Aí, depois delas, vem o retorno. O momento em que nos convencemos de que, ou fazemos algo por nós mesmos, ou nos deixamos engolir. E então a Fênix vem. Sobrevoa à nossa volta, insufla os nossos sonhos, nos incomoda tanto que mal podemos nos olhar no espelho sem fazermos uma cara de nojo. Pegamos o telefone e pronto: marcamos cabelo, unha, depilação, massagem, maquiagem, o que for. E como um bom escultor, o profissional nos liberta daquela forma que passou, que transmutou, que ultrapassou-se a si mesma. Voilá!

Saí loira e voltei morena. Cheia de mim e completamente renovada. Que venham as chuvas, estou de sombrinha! E o melhor: nova!