Poemas, 'iníco' ou '2001'
Poema, por Wellington Souza.
Dez anos de poesia. No mês de maio de dois mil e um escrevia meus primeiros poemas (transcritos abaixo). Nessa época, a maior preocupação era com o lirismo poético, em canalizar a melancolia na tentativa vã de drená-las. Escrever era o ato mais solitário, a solidificação de memórias e não havia nenhuma preocupação em ser inteligível para outros - apenas para um 'eu' futuro que, no caso, é o 'eu' de hoje.
Assim, cinco cadernos brochura com 96 folhas pautadas, formato 14,4 x 20,2 cm, formam preenchidos.
E acredito ter conseguido escrever poemas embasados nessas premissas. Nos dois primeiros dessa postagem, há a evocação da infância e de personagens a que cercou. Líricos e autobiográficos, são pílulas de milagres. Enquanto o ultimo poema, Ana Lúcia - "Anjo caído", foi escolhido apenas por ter sido o primeiro a ser escrito.
Assim, cinco cadernos brochura com 96 folhas pautadas, formato 14,4 x 20,2 cm, formam preenchidos.
E acredito ter conseguido escrever poemas embasados nessas premissas. Nos dois primeiros dessa postagem, há a evocação da infância e de personagens a que cercou. Líricos e autobiográficos, são pílulas de milagres. Enquanto o ultimo poema, Ana Lúcia - "Anjo caído", foi escolhido apenas por ter sido o primeiro a ser escrito.
...
(08/09/2001)
(08/09/2001)
Escrevo.
Escrevo igual criança:
– quero!
Quero o doce da minha mãe.
Quero a proteção do meu pai.
Quero o meu tio Teco.
Que bom que é encontrar o nosso tio Teco!
É aquele tio que conta piadas sujas,
mostra a vergonha das meninas fotografadas
vivia a pagar pé-de-moleque
sorvete
refrigerante
qualquer besteira.
Tudo antes do jantar. Tudo o que papai não dava.
O tio Teco não teve a vida comprida,
mas cumpriu com a vida
que é um graveto a descer o rio.
Um dia ele veio em casa, mas eu estava dormindo.
Agora ele está dormindo e eu tenho que ir vê-lo.
Boa noite, tio Teco.
Minha pequena salvação
(01/10/2001)
(01/10/2001)
Uma vez quando eu era criança – tinha uns oito anos
estava com medo e a clamei:
– Bi, tô com medo...
– Bi, o Éto tá com medo...
– BI, dá a mão que o Éto tá com medo...
Eu via em todos os cantos fantasmas e assombrações
enxergava em simples casacos homens do saco
em chapeis, bichos-papão.
Ouvia em urros do vento alguém me chamar.
Ali, em meio às cucas e Piratas de Poe
eu a via como única salvação e a clamava:
– Bi, tô com medo...
– Bi, o Éto tá com medo...
– BI, dá a mão que o Éto tá com medo...
Ela estava com o lampião na mão
com a cruz contra os diabretes;
ela é e sempre será a minha pequena salvação..
A Bi é a minha irmã mais nova.
Ana Lúcia - "Anjo caído"
(22/05/2001)
(22/05/2001)
Com a luz da aurora
embalada pela alvorada,
nossas faces se encontraram
na despedida não sonhada.
Quando os dias futuros se fizerem presentes,
seu gélido olhar que,
um dia acendeu o meu coração
o fará agonizar.
E eu já na penumbra da vida
imagino o dia em que,
junto ao Arcanjo
te encontrarei com auréolas
asas, arco na mão
pronta para outra campanha, outra paixão.
Descerá à Terra
e fará como a aranha negra
escravo um novo coração.
*
Créditos da imagem:
O que sonhas, menino?, por Ras
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