Outra
Conto, por Valentina Silva Ferreira.
"Um beijo que a deslizou calmamente até o lugar sagrado dos apaixonados.""
- Quando é que te volto a ver? - perguntou pela terceira vez.
Mas ele continuava, sem dó nem piedade. Beliscava a ponta da orelha com os dentes, insistia em passar a língua nos seus nervos mais sensíveis. As mãos alisavam a carne, experimentando as suas curvas e deslizes. Concentrava-se especialmente e de forma bem demorada nas cavidades secretas. Ela estava deitada, vestida, e chateada. E aqueles toques e estímulos aumentavam a sua raiva. Não queria mais ser a outra, a que serve apenas para umas horas. Queria ser a única, a eterna, a verdadeira.
- És capaz de ouvir o que te digo?
Ele puxou o decote para baixo, forçando o tecido da camisola. Maldito aquele homem que a fazia cair em qualquer abismo. Ele despiu-se sem ela dar por isso, despiu-a sem que ela conseguisse reclamar e, de repente, o seu corpo atlético e moreno já se encontrava colado ao seu.
- Precisamos conversar - disse, tentando levantar o corpo moído de desejo.
Ele não deixou. Apertou-a no peito como se a guardasse para sempre. Beijou-a: com amor, com carinho, com luxúria, com respeito, com delicadeza; em sintonia com a água, com o fogo, com o ar, com a terra. Um beijo que se encaixou nela como uma aliança que encaixa no dedo. Um beijo que a deslizou calmamente até o lugar sagrado dos apaixonados. Um beijo de quem quer, de quem precisa, de quem ama. Um beijo que a fez sentir a única, a eterna, a verdadeira.
- Amo-te... - suspirou ela, quase em segredo.
Ele acariciou o seu pescoço.
- Amo-te tanto... - disse novamente, numa mistura entre gemido e prece.
Ele beijou a pele dela, o suor matizado de sentidos.
- Não quero mais ficar longe de ti... - continuou ela.
Ele aninhou-se nela. Seios com peito, barriga com barriga, pêlos com nudez, masculinidade com feminilidade.
- Quando é que te volto a ver? - perguntou, por fim.
E aí o território foi invadido. A batalha começou. Havia emoção e força. Coragem e loucura. Sangue, pele, carne, alma, coração. Uma luta entre iguais que queriam o mesmo. Queriam aquilo, agora, depois, ontem, amanhã, para sempre, quem sabe? Bebiam-se, sentiam-se, ouviam-se, falavam-se. Mas sem palavras, nem sons, nem gestos. Somente ele e ela, ritmadamente, com loucura e, principalmente com amor. O fim da guerra chegou. Calmaria. Respirações que sossegavam. Bandeira branca. Paz.
No fim, ele levantou-se. Procurou no bolso do casaco uma caixa vermelha e abriu-a. - Casas comigo? Já pedi o divórcio.
E finalmente, a única, a verdadeira, a eterna.
*
Créditos da imagem: Olhares.com
NUS, por Nuno M Rosário Casimiro
Ótimo, Valentina! Abraços. Paz e bem.
ResponderExcluirMuito obrigada Cacá e Well. De coração. Principalmente por vir de gente tão talentosa.
ResponderExcluirMari, agradeço as suas palavras :)
Muito bom o conto Valentina! Parabéns!
ResponderExcluir, bacana! bom! romântico... continue! bjocas e inté!
ResponderExcluirTeo
Descobri o conto, de lascívia e luxúria, escrito com arte, como nas palavras que nos vamos habituando. Contos curtos e com momentos insólitos que lhes dão significado e encanto :) D
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