I Concurso Literário Benfazeja

Flá Perez


Poemas, por Flá Perez.




Disforme

Visto a loucura com palavras lapidadas,
eu sei,
sou híbrida, mezzo-sicrana,
talvez
filha bastarda de Ana Cesar com Quintana,
lápis-lazúli pichado com spray.



Quando da serenidade

Acender as velas,
cortar os cabelos
na Iniciação,
no Rito,

não correr mais risco
de raptar o noivo,
e evoluir aos poucos
de um Dionísio
para um Orfeu ou Cristo

e dizer da morte, que lhe tenho pena
(se ela vem apenas
no final da festa).

Mas antes, ah! bem muito antes,
eu vou provar todos os brancos e tintos,
e mesmo assim não me desfazer das sedes,

- que por dentro inunda-me a água do mar -

rebentar em leitos
e varrer as margens...
dar à luz perguntas
e permanecer nas sombras,

vou beber a água embaixo das montanhas,
eu vou provocar os céus:
provando a comida dos meus orixás e santos.


Acerto

Ao Menino Iluminado,
Lemuriano e quieto
que me visitava em sonhos
com a precisão dos números

(e em me seguir crescendo,
ele foi coroado,
até se adivinhar traído
pelo amanhecer dos filhos
que já me vieram
-fado- )

:

Quando por fim ouvir a minha voz pairando
entre o silencio do aborto e das motosserras:

- Anaximandro, Anaximandro, Anaximandro...

Encontre-me no ressurgir daquelas velhas terras,
ou do outro lado.



Cora(da)

Enquanto me obsediarem
essas paixões menos amenas
esses amores de atropelo,
terão de aguentar em mim
esses poemas

e ainda serei saliva, suor e cheiros,
sangue, tinta nas unhas e nos cabelos,
doses maciças de prazer e dor nos travesseiros:

tenho algum tempo para chegar aos ossos
e lhes mostrar a alma e os meus doces caseiros...

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