A Televisão
Conto, por Giselle Jacques.
Os olhos do menino brilharam mais naquela tarde, quando o pai chegou da cidade trazendo a novidade. A pequena e esquisita caixa chamada televisão. Era a confirmação do milagre: a energia elétrica estava chegando!
Interruptores e tomadas foram instalados às pressas. A casa inteira em alvoroço esperando a chegada da luz. No dia marcado, o menino sentou-se no chão em frente à tela escura e esperou. Esperou um dia, dois, três e a luz não veio. Esperou um outono, um inverno. Nada do milagre acontecer. Ficou ali, sentado diante dela. Não falava, quase não comia. Dia e noite, o menino mantinha os olhos grudados na televisão desligada.
O tempo passou, o menino cresceu, as tomadas foram esquecidas e só a velha televisão continuava no mesmo lugar. Os olhos do jovem sempre presos à tela enegrecida, ansiando por um sinal de vida do aparelho morto. Mentalmente, ele falava com sua tv e aguardava respostas que nunca vinham.
Estranhamente, o aparelho passou a fazer parte de sua vida. Vestiu luto com ele quando o pai morreu e foi merecedor de seu mais doloroso remorso na noite do casamento arranjado. Aos poucos, a esposa acostumou-se às manias do marido e não mais implicou com a rival. Ele, porém, sentia-se traído ao notar que sua televisão fitava seus filhos como o fitara na infância. Mas, não poderia pedir-lhe fidelidade se ele mesmo, homem adulto, a trocava pela esposa nas noites de fogo.
Envelheceu com ela. Sentiram juntos o peso do tempo sobre os ombros. A vida passara quieta e escura como a tela da tv. Os olhos do velho perderam o brilho. Só a devoção de um pelo outro não mudou. Nem a presença dele, nem a quietude dela. Ela nunca lhe deu qualquer sinal. E a luz nunca veio.
Então, numa noite muda, a esposa, os filhos e netos despertaram assustados com o ruído ensurdecedor. Correram todos para a sala e pararam estáticos diante da televisão. A mesma televisão que nunca acordara, agora gritava em mil vozes, enchendo a sala com imagens e sons. Na cadeira de balanço, o velho jazia inerte, de olhos fechados e um resquício de sorriso nos lábios enrugados. Ela que fora sua musa, bradava num réquiem frenético a morte daquele que dera a vida a admirá-la. E, em meio ao desespero e confusão, ninguém notou que o fio da televisão nem sequer estava ligado à tomada.
Interruptores e tomadas foram instalados às pressas. A casa inteira em alvoroço esperando a chegada da luz. No dia marcado, o menino sentou-se no chão em frente à tela escura e esperou. Esperou um dia, dois, três e a luz não veio. Esperou um outono, um inverno. Nada do milagre acontecer. Ficou ali, sentado diante dela. Não falava, quase não comia. Dia e noite, o menino mantinha os olhos grudados na televisão desligada.
O tempo passou, o menino cresceu, as tomadas foram esquecidas e só a velha televisão continuava no mesmo lugar. Os olhos do jovem sempre presos à tela enegrecida, ansiando por um sinal de vida do aparelho morto. Mentalmente, ele falava com sua tv e aguardava respostas que nunca vinham.
Estranhamente, o aparelho passou a fazer parte de sua vida. Vestiu luto com ele quando o pai morreu e foi merecedor de seu mais doloroso remorso na noite do casamento arranjado. Aos poucos, a esposa acostumou-se às manias do marido e não mais implicou com a rival. Ele, porém, sentia-se traído ao notar que sua televisão fitava seus filhos como o fitara na infância. Mas, não poderia pedir-lhe fidelidade se ele mesmo, homem adulto, a trocava pela esposa nas noites de fogo.
Envelheceu com ela. Sentiram juntos o peso do tempo sobre os ombros. A vida passara quieta e escura como a tela da tv. Os olhos do velho perderam o brilho. Só a devoção de um pelo outro não mudou. Nem a presença dele, nem a quietude dela. Ela nunca lhe deu qualquer sinal. E a luz nunca veio.
Então, numa noite muda, a esposa, os filhos e netos despertaram assustados com o ruído ensurdecedor. Correram todos para a sala e pararam estáticos diante da televisão. A mesma televisão que nunca acordara, agora gritava em mil vozes, enchendo a sala com imagens e sons. Na cadeira de balanço, o velho jazia inerte, de olhos fechados e um resquício de sorriso nos lábios enrugados. Ela que fora sua musa, bradava num réquiem frenético a morte daquele que dera a vida a admirá-la. E, em meio ao desespero e confusão, ninguém notou que o fio da televisão nem sequer estava ligado à tomada.
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Créditos da imagem: Olhares.com
Tv Save Lives., por Gustavo Kruel
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