I Concurso Literário Benfazeja

O tempo e a memória




Poemas, por Ianê Mello


Nódoa do tempo

No chão
uma mancha
descorou o sinteco
numa nódoa
presente, constante,
a relembrar algo

O líquido
derramado
já não se faz lembrar,
da memória
já desvanecido



Mas a mancha persiste,
insiste em ser
uma marca
que não há mais jeito
de se extinguir

No tempo que transcorre
em leves ou pesados passos
ali ela sempre estará
e a tudo vê passar




Tempo que escorre...vida que morre

não eles não sabem
que o tempo é pouco
a vida urge e grita
não há tempo a perder
esconder o rosto
não vai resolver

se trancar no quarto escuro
com as mãos cerradas
crispadas de raiva
o rosto contraído
num esgar de dor
o peito aberto em ferida
que nunca cicatriza
na falta de saída
no descompasso do amor

Tempo que escorre... vida que morre
não eles não sabem
e a vida passa sem dó
em cada esquina escura
em cada beco sujo
em cada pó de estrada
em cada pó
em cada máscara
em cada solidão
em cada desencontro
em cada grito de rancor

a vida se vai
e não se leva nada
nada se leva
tudo escorre...
.
.
.
.


tudo...


...MORRE



Passagem do tempo

O tempo que passa
sem nada esperar
Esse tempo matreiro
na vida a girar
Passa rápido, passa lento...
Corre justo no momento
em que era pra parar
e quando desejamos que corra
se arrasta bem devagar

Tic-tac, tic-tac
Faz o relógio a brincar
no passar de cada hora
seus ponteiros a marcar
Desperta em nós a vontade
de aproveitar sem demora
a vida a cada instante
vivendo somente o agora
pois o tempo é constante
e em sua passagem não perdoa
aquele que não vive "numa boa".



Linhas do tempo

As marcas do tempo
que passa impiedoso
num rosto de mulher
Em linhas traça desenhos
de recordações vividas
Vívidas no rosto que as guarda
Puras em verdades reveladas
Num rosto de mulher
os vincos do passado
para sempre marcados
até o fim de seus dias
para que nunca esquecido
na casa da memória faça morada a saudade

de um tempo em que fomos criança




 O tempo e o vento

O vento a soprar
roupas no varal
ao sabor do vento
que assovia mansamente
cálida manhã
frescor de lavanda
alfazema em flor
vida que se espalha
em verdes campos
serena e tranquila
o tempo que foge
das mãos
acalentando sonhos
simples cotidiano
placidez de estar


*

Crédito de imagem: Pintura de Salvador Dali

Um comentário:

  1. Obrigada Well pelo convite para fazer parte dessa maravilhosa revista e pela calorosa recepção. Espero sempre contribuir da melhor forma. Obrigada, amigo.

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