I Concurso Literário Benfazeja

Poemas de Marcelo Sousa



Poemas, por Marcelo Sousa.


Amor em tempos de cólera!



Quero, mas não posso.
De espuma são feitos meus ossos.
Pra sempre, pra mim, é sempre muito pouco.
Jamais me passei por gênio nem precisei fingir-me de louco.

Tenho mãos que sabem os mais perfeitos carinhos,
mas meus gestos dizem ao mundo que quero estar sozinho.
Toda dissonância me alivia. Toda confusão me anima.
Mesmo assim teimo em perseguir a correta rima.

Eu poderia ser feroz, pois tenho músculos e astúcia,
mas meu juízo me faz sempre parecer um bicho de pelúcia.
Meu corpo pede, minha alma refuta.
Doar aos pobres ou gastar com as putas?

Não vou à missa; jamais provei uma hóstia.
Mas Deus nunca deixou-me com perguntas sem resposta.
Certo filósofo disse que ter angústias é ser inteligente.
Mas o poeta tem o peito em chamas e o coração dormente.

Escrevo sem rumo, como quem caminha certo por vias tortas.
Somente os espinhos podem garantir que minha carne não está morta.
Creio que é possível sofrer no paraíso, entre anjos e flores.
A você dedico esses versos, alimentando tuas alegrias com as minhas dores.



* *

O Casaco Molhado

Na maioria das vezes o sentimento de "ser bom" ou "ser do bem" me parece como caminhar milhas e milhas contra o vento, com um cardigã molhado, numa noite fria de inverno.



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Indelével

O amor não é figura que se rabisque na pele em momento de ócio.
Amor é um dragão que a gente traz tatuado nos ossos!


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Créditos da imagem:
Refugio na oração, por André Pimenta

Um comentário:

  1. Amor em tempos de cólera... ^^ Perfeito, Perfeito, sem mais explicações

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