I Concurso Literário Benfazeja

Estação do sono


Crônica, por Giovana Damaceno.


Estamos no Horário de Verão. Ah, que legal! Os dias serão mais longos, aproveitaremos mais tempo de sol, de claridade, de happy hour regado a choppinho e bate-papo. Nem ligo de acordar mais cedo e sair de casa no escuro. É muito bom quando chega sete da noite e ainda está claro. Adoro verão, que delícia!

Isto o que você acaba de ler não são palavras minhas; são as que ouço de todos a minha volta, a despeito da expressão contrariada que minha face não consegue disfarçar. Não gosto do Horário de Verão. Por causa do relógio biológico que veio defeituoso de fábrica, não consigo me adaptar a acordar uma hora mais cedo, por isso passo o verão inteiro com sono. Enquanto a maioria curte a tarde esticada, com a luz natural por mais tempo, minhas pálpebras pesam de saudade do travesseiro.

Tenho dificuldade natural para apagar o sistema, o sono é leve e o meu melhor horário pra dormir é o da manhã, quando finalmente meu cérebro parece relaxar. Não queira imaginar o que a pessoa sofre por ter de sair da cama mais cedo, olhar pela janela e ter a impressão que acabou de deitar. E aí você questiona: “Qual é a novidade nisso? Todo mundo reclama da mesma coisa”. A diferença é sutil, caro leitor. Todo mundo reclama, mas todo mundo gosta. Coisa de brasileiro, mesmo. Só que eu, não.

Aliás, às vezes penso que nasci no país errado. Não gosto de calor (dias nublados são os mais lindos e agradáveis), futebol, churrascada e cervejada. Faço concessão ao Carnaval, que me presenteia com alguns dias a mais de folga para assistir e curtir a folia alheia. Gosto de praia, mas de preferência fora das temporadas, quando posso desfrutar de sossego, silêncio, paz.

Como o verão é pra todos e o horário especial também, que venham, então, aqueles dias longos. Afinal, a redução no consumo de energia também é fundamental para o ambiente, embora quase ninguém fale sobre isso quando nossos relógios têm que ser adiantados. É que neste período há menos consumo de água na geração de eletricidade e menor eliminação de gás carbônico na atmosfera, já que há diminuição na queima dos combustíveis que abastecem as termelétricas.

Quem nasceu depois de 1985 - ano em que o horário de verão foi instituído para nunca mais deixar de existir - não se lembra dos verões ao natural, nos quais acordávamos para ir à escola ou trabalhar com o dia claro, vendo o sol nascer da janela de casa. Quando estudava à tarde, saía do colégio às 17h30, chegava em casa, tomava banho e aguardava a janta, que era servida por volta de 19 horas, da noite.

A medida foi implantada no Brasil diversas vezes, desde o governo de Getúlio Vargas, em 1931/32. O Horário de Verão daquele ano vigorou de 3 de outubro de 1931 até 31 de março de 1932. Nos 35 anos seguintes, a medida foi instituída em nove oportunidades: em 1932, de 1949 a 1952, em 1963 e de 1965 a 1967. Depois, a partir de 1985 até os dias atuais.

E não me parece que voltaremos a ter o horário normal no verão. Portanto, eu que me vire e arrume uma forma menos sofrida de curti-lo, além de ter de suportar os dias de calor infernal. Haja ventilador, lencinho, toalhinha, ar condicionado e café.

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Créditos da imagem: Site olhares - fotografia online
Sunset in flames, por Renato Lourenço.

Um comentário:

  1. Depois de oito anos sem horário de verão na Bahia, o atual governador resolveu assumir de vez o horário de Brasília. Confesso que essa confusão de ponteiros já havia entrado no esquecimento, mas a mudança voltou.

    Ainda estou tentando me acostumar com essa história de ter que levantar uma hora mais cedo, dormir mais tarde, sol no meio da noite... essas coisas que só acontecem no verão.

    Eu também fico com muito mais cedo nessa estação pré-verão, mas fazer o que? Fico sonolenta e com vontade de sair do trabalho só para aproveitar a praia até as 19horas da noite. Isso sim é gostoso. Arrisco até escrever em ondas... rs...

    Mas... vamos esperar até o final do verão, que ai sim, chega o outono delicioso...

    Beijos e bons dias de sono... rsrs

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