'As Mãos do Porvir' e outros poemas
Poemas enviados por Lucas Perito
Natureza Morta
No Princípio é o Verbo
Inextricável pedaço amorfo
Na sua aparência terno
A seu entendimento morno.
Palavra que junta Palavra
Sem sentido apreensivo
Interroga-se, mas não crava
Todo o saber excessivo.
Lentamente apercebe-se a lida
Transpõe a língua aparente
Adentra o lugar da serpente
Aceita o pico da mordida.
Tratado da Terra
I
Cobre-se a negra imensidão
De onde parte o som
Que se dispersa a medir distâncias
Cavam em dupla comunhão
Sob sagrados jardins
De frutos belos e escuros
Ao retirar a terra
Sombras penetram e infiltram
O profanar da dúvida
É no buraco e entre o nada
Que alegre se encontra a dor
De se perguntar às respostas vagas.
II
Surgem espaços de amplidão descomunal
E brilham luzes que ofuscam o olhar
Como neve que penetra o branco
Através de nuvens que a vera falam
Refastelam-se livres homens de
Vozes límpidas que sem parâmetro
Vagam entre abóbadas celestes
Devir de certezas numéricas
E frases insuspeitas
Não há delícias que não se sabem
Não haveremos de encontrar o
Primeiro grito no eco eterno
Pois, assim será o jardim vindouro
- Branco, claro e triste.
Objeto
A par entre o pensar e o estar,
Edificado no espaço e feito pelo ser,
Esse objeto sem forma combina com aqui
O marrom da cerejeira
O vermelho e azul da renda
A luminosidade amarela.
Suas setas marcam a língua - sem a qual
Vagaria sem traços que a delimitassem.
Mesmo não mais funcionando é um bonito objeto,
Um enfeite.
As Mãos do Porvir
Dos braços da decadência
Rouba-se
A face dos afogados.
Prata e carne se encontram
Em um leve toque de conforto
- Que não haja surpresas!
E que para faustosos tempos
O som das mãos
Seja o único ruído do silêncio.
Lucas Perito
Nasci em São Paulo em 1985. Formado do curso de Comunicação em Multimeios pela PUC-SP. Trabalhei na editora Empresa das Artes, escrevendo livros ligados a história e fotografia, fazendo os textos de acompanhamento para o livro fotográfico “Caminhos da Mantiqueira” (2011) de Galileu Garcia Junior. Atualmente trabalho para o Estúdio Anacã, onde produzo e público textos ligados a dança. Tive alguns poemas meus publicados na Revista Zunái (Volume 1 - Nº3 - Março 2014)
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Créditos da imagem:
"Buraco Negro", por Mindy
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