I Concurso Literário Benfazeja

Talvez



Enviada por Mel Ortiz


– Mas se eu te amo e você me ama, por que não conseguimos ser felizes juntos?

– Talvez não seja amor suficiente.

– E amor se mede? O que é “amor suficiente”? Medir amor não seria como contar as gotas d'água do oceano?

– É que talvez haja outras formas de amor.

– E há amor certo ou errado? Amor é amor e já basta.

– Talvez nosso amor não seja amor. Talvez seja admiração, seja paixão, seja amizade.

– E isso tudo não é amor? Eu te amo porque te admiro, porque sou louco de paixão, porque você é minha melhor amiga. Eu te amo por tudo isso e tudo isso junto é amor.

– Então talvez precisemos de mais, além do amor.

– E o que há de maior que o amor? Não há nada maior que o infinito. Ou há?

– É que talvez não seja pra ser. Talvez o destino não queira.

– E que destino é esse que não deixa duas pessoas que se amam seguirem felizes?

– Talvez um dia a gente entenda. Talvez tudo faça sentido. Talvez.

– Então talvez eu encontre outro alguém e você também, talvez nunca mais nos vejamos, talvez nos esqueçamos de tudo que um dia significamos um para o outro. Talvez nossas risadas, nossas lágrimas, nossos segredos, talvez tudo isso não seja mais nada, talvez até deixe de existir na nossa memória, porque talvez a vida seja melhor assim, esquecendo e apagando - mesmo não querendo -, porque um dia talvez sejamos felizes dessa forma.

– É, talvez.

– Ou talvez nós percebamos que a vida fazia sentido sim, mesmo com obstáculos, mesmo o destino dizendo que não, mesmo com um amor que pode ser torto - mas que é amor e que sendo amor é certo e já basta e é do tamanho que tem que ser e que todo amor já vale a pena por existir. E talvez nós nos arrependamos porque talvez nesse momento não haja mais tempo de voltar atrás. Então vamos carregar pro resto de nossas vidas o peso de termos preferido um talvez, porque talvez não haja nada nessa vida pior do que a dúvida de um talvez.

– É que talvez eu não consiga carregar o pesado não, e que talvez a única coisa que eu consiga levar comigo seja a leveza do talvez. Porque o talvez é cheio de sonhos, é cheio de "e se", e eu ainda tenho tantos deles aqui. É que talvez o talvez seja mais bonito, seja mais eterno, é que o talvez estará sempre comigo e eu nunca estarei sozinha. É que um sim está tão distante de mim e eu já o procurei tanto que já não sei onde mais o procurar. Porque talvez com o talvez eu tenha uma chance com a felicidade, o que já é muito mais do que a infelicidade certa do não. Porque talvez o talvez não seja o medo do não, mas a esperança de um dia achar o sim. E eu o quero tanto, mas tanto, que talvez apenas a esperança de um dia conseguir encontrá-lo já me faça feliz. E talvez seja por isso que eu escolha o talvez.




Mel Ortiz
Poeta, cronista, filósofa, marqueteira e muitas coisitas mais. Curiosa e fascinada pelas histórias alheias. Menção honrosa no Prêmio UFF de Literatura 2013. Mora no Rio.
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Créditos da imagem:
Juntos, por Diana

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