I Concurso Literário Benfazeja

A reinvenção do dizível na poesia de Salgado Maranhão - Parte II


Entrevista com o poeta Salgado Maranhão, por Iracy Souza.

Evento em homenagem ao poeta no Center for Portuguese Studies and Culture da University of Massachusetts Dartmouth.

Confira a primeira parte aqui..



(...) E no caso do Dimuro, seu poema me pegou de surpresa, e de tão belo e comovente, virou prefácio da minha poesia reunida.

Salgado Maranhão

(...) Em minha poética, a dor não é um fim, mas um afluente que busca um outro rio.

Salgado Maranhão


A entrevista é um olhar. A liberdade do olhar; o olhar da liberdade. Eu, o poeta Salgado Maranhão e um horizonte de possibilidades. A leitura, que fiz do conjunto da obra do poeta Salgado Maranhão, me permite fazer algumas considerações e muitas interrogações a respeito do labor de sua escrita e dos enigmas de seu universo poético. Minhas interrogações têm o intuito de auxiliar, como um instrumento, aqueles que fazem de seu universo poético seu objeto de estudo, ou ainda, promover vários esclarecimentos a intérpretes, que ainda não conceberam integralmente seu labor poético.

O respeitável poeta e professor Jorge Wanderley(i) destacava a poesia de Salgado Maranhão "pelo tom ático, elevado, do mais indiscutível sermo nobilis e também pela notável consciência artesanal da palavra."

Penso que a subjetividade é deliberadamente intersubjetiva, nosso poeta, desde sempre, extraiu prazer nas letras: "Comecei minhas leituras de poesia por Camões e Fernando Pessoa veio logo em seguida. Sempre recorro ao Borges quando quero ter prazer no texto, quando quero degustar uma narrativa ou um poema impactante. Entre os de língua portuguesa, leio Luis Miguel Nava, Maria Amélia Neto, Ana Luisa Amaral, Sophia de Mello Breyner Andersen e Eugénio de Andrade; e leio ainda alguns angolanos e cabo-verdianos. Isso para não falar dos brasileiros; Cabral, Drummond, Gullar e Mário Faustino e, naturalmente, os poetas da minha geração."

Essa revisitação constante reflete em seu espaço poético, desdobrando-se, plasmando-se numa formulação lapidar concisa do pensamento. Em seu universo poético, a linguagem em sua vertente simbólica revela um esforço, sempre precário, de fazer frente ao real da falta e o processo de recriação que as palavras comportam levado a cabo pela escrita, as diferenças se acentuam ao mesmo tempo em que se patenteia o resgate de algo comum: a vitalidade inerente ao ato criador. Resultando na reescrita, na reelaboração de uma tradição do dizível.

Poeta Salgado Maranhão, eu agradeço a gentileza de nossa conversa, quero parabenizá-lo pela conquista do prêmio ABL Poesia, concedido pela Academia brasileira de letras (ABL/2011), por sua antologia, "A cor da Palavra".

O poeta é também o vencedor do prêmio Jabuti, o mais respeitado no Brasil, de 1999, com o livro "Mural de ventos", um dos sete títulos editados. Poeta, vou começar fazendo duas perguntas de minha curiosidade de leitora, sempre querendo saber mais do que as letras mostram.



Iracy: O Poeta Carlos Dimuro dedicou a você Um Rio Salgado, inteiramente belo, por sua vez você dedica inúmeros poemas a ele e a outros. Eu sei, pelo menos pensava que soubesse que um presente para provar todo o meu amor por alguém, devesse ser inútil, supérfluo em sua própria abundância (no sentido de uso prático). Imaginava que para simbolizar meu amor seria necessário que o presente tivesse seu valor suspenso. O que é mais difícil dedicar um poema ou recebê-lo?

Salgado Maranhão:: É, igualmente, difícil dedicar ou receber um poema. Primeiro, porque a poesia é autônoma e vem quando e para quem quer. Muitas vezes, gostamos demais de uma pessoa, mas não conseguimos lhe dedicar sequer um verso. Enquanto outras, nem temos tanta intimidade e a poesia já lhe abre os dentes. Fazer o quê? Felizmente, os poemas que eu dedico nos meus livros, são para pessoas da minha melhor estima. E no caso do Dimuro, seu poema me pegou de surpresa, e de tão belo e comovente, virou prefácio da minha poesia reunida.


Iracy: Sabe... Nós herdamos do sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo. Canta-nos outro poeta (in: Fado tropical, Chico Buarque e Ruy Guerra). Eu gosto muito da literatura portuguesa, poeta, e se você foi despertado por Camões e na lista de seus preferidos cita alguns autores portugueses, fico à vontade para perguntar: você gosta de fados? Confesso que quando li alguns de seus versos, sonhei com um belo Fado. Você já pensou assim?

Salgado Maranhão:: A poesia portuguesa está na gênese do meu interesse. Tenho enorme empatia pelo povo português e sua cultura. Gosto de tudo: da comida, da poesia, da hospitalidade e da modéstia, que se parece muito com o jeito de ser do mineiro e do maranhense, o de ter virtudes sem alardear. Quanto ao fado, é um dos meus gêneros musicais prediletos, chego a ficar motivado para escrever quando escuto sua doce melancolia, mais ainda não tive nada musicado por ninguém com essa levada. Ainda estou no aguardo.

Iracy: Vamos falar um pouco de Demandamentos, (agosto de 2009), manifesto poético que o levou a Casa de Fernando Pessoa. Como foi essa experiência?

–"Este manifesto se rebela contra a banalização indiscriminada da poesia e a palavra aviltada pelos demagogos, e é dedicado aos que julgam que ela não é passatempo de diletantes, mas artigo de primeira necessidade." (ii)

Salgado Maranhão:: Nós lançamos esse manifesto em agosto de 2009, porque o espaço da mídia estava excessivamente ocupado com futilidade e com baixarias, enquanto a poesia que sempre teve muito a dizer, ninguém queria ouvir. Aí o Prosa e Verso (O Globo-1/08/2009) nos deu uma página e a repercussão foi imensa. O resultado é que o espaço, na mídia, melhorou e agora a poesia já aparece mais nos eventos. No dia 10 de agosto, fizemos um lançamento no Planetário da Gávea, com o Tonico Pereira caracterizado de Moisés lendo o manifesto, e mais um montão de atrizes (Giulia Gam, Ciça Guimarães, Camila Pitanga, Camila Amado, entre outras). Foi um sucesso! Como falei anteriormente, Portugal me instiga. Comecei minha percepção da grande poesia pelos autores portugueses, mas não esperava ser convidado, pelo menos não tão cedo, para ir a Lisboa, com toda honraria, falar, justamente, na casa de um dos meus ídolos. O convite surgiu de uma conjunção de apoios: o grande fotógrafo e curador de eventos, João Nuno Martins, a Embaixada Brasileira em Lisboa e a Casa de Fernando Pessoa. Foi uma dessas semanas da vida, para não se apagar da memória. Só posso dizer que foi um fim de tarde memorável, que além da presidente da Casa, Inês Pedrosa, havia vários poetas para nos prestigiarem (a mim e ao Geraldo Carneiro), entre eles, o poeta António Osório.

Iracy: Uma das discussões que surgem na academia nos últimos tempos é a questão das citações, nas teses; muito barulho e pouca, ou nenhuma abstração. Os Desmandamentos são claríssimos no que tange essa questão:

As influências, em geral, são bem-vindas, a não ser quando alijam a voz própria. Há poemas com tantas citações que, se extrairmos o que é dos outros, não sobra bulhufas.(iii)

Quem busca entender o poema apenas cientificamente, dissecando sua morfologia como quem faz uma autópsia, perde a viagem. Conhecê-lo é entrar em seus labirintos, sem separar o corpo de sua subjetividade. Não queremos a poesia prisioneira de uma única arte poética.(iv)

Qual a sua leitura, em relação a essas questões, hoje?
Salgado Maranhão:: Do Estruturalismo aos nossos dias, houve um desenvolvimento assombroso no que toca à metodologia do estudo da poética. Figuras como Jakobson, Roland Barthes, Umberto Eco, entre tantos outros, trouxeram uma contribuição inestimável à compreensão dessa matéria tão volátil na sua substancialidade. Se bem que, antes, o velho Ezra Pound em seu ABC da |Literatura, falava muito mais diretamente aos autores. Mas, não podemos deixar de reconhecer, que a produção de estudos sobre o tema triplicou. E foram bem sucedidos tais estudos que o objeto deles foi passado ao segundo plano. O teórico adquiriu tamanha importância em suas formulações conceituais, que a poesia se tornou desnecessária. E, consequentemente, o poeta que sempre foi aquele que fez a língua e a linguagem avançarem, justamente por assumir pagar o preço da irreverência sem salário, virou um ente anacrônico. Observe que num evento literário de tamanha importância como a FLIP, quase não tem poetas. Claro, não se trata de substituir a crítica pela poesia, o equilíbrio é fazê-las andarem juntas, uma completando a outra. Ensinar poesia sem poema é falar de almoço sem comida.

Iracy: Poeta, você me falou, em outra ocasião, que poeta é aquele que não sabe ser de outro jeito, já obtive uma trilha segura para não pensar de outra forma. Mas, e o desejo de transcender a própria existência, através do ato de criação, via poesia, que torna sem efeito a ação do tempo, assegura um lugar no campo do Outro, conduz o poeta à eternização. Ou seja, quero falar da aspiração de superação da finitude. A poesia, em seu exercício de escrita, assegura a imortalidade. É possível para o homem desprender-se do poeta e imaginar-se eterno, via a própria poesia?

Salgado Maranhão:: O ser humano é, por natureza, o ser da transcendência, não se basta no mundo das coisas perecíveis. Busca o tempo todo, vazar desse universo que colide com a morte e entrar, de algum modo, na esfera da imortalidade. Daí as religiões (religare) e até mesmo os rituais de alteração da consciência, como os que envolvem um simples copo de cerveja ou as drogas em geral. Essa obsessão por sair de um mundo concretamente real, por vezes até prazeroso, mas ameaçador em sua implacável finitude, tem motivado tragédia e as extraordinárias descobertas da história da humanidade. E a poesia se insere no foco dessa busca. Justamente, porque ela opera numa dimensão primeva da consciência manifesta. Ela revela ao indivíduo uma instância desconhecida da sua própria voz; ela o impacta, através dos signos da língua, com uma desconstrução inusual de sua própria expressão, que o confronta ao um outro outro, sendo o mesmo. É uma forma de conversar com Deus ainda em vida. Quem toma conhecimento dessa epifania, mesmo que seja por um instante, não consegue mais olvidá-la.

Iracy: Seu universo poético percorre as voltas da memória, os labirintos do inconsciente explorando o mundo mediante uma percepção que nos surpreende a todo instante, liames e analogias novas que se formam a partir do cerne dos seus procedimentos simbólicos. Tudo isso já bastaria, para termos uma pequena ideia da construção de um poema ou de um pequeno verso. Mais ainda, você disse-me que a poesia não vem quando quer. O prosador mineiro Guimarães Rosa, certa vez, afirmou que "a crítica literária, que deveria ser uma parte da literatura, só tem razão de ser quando aspira a complementar, a preencher, em suma a permitir o acesso à obra." (v)Gostaria de saber como você lida com a crítica?

Salgado Maranhão:: A poesia só tem sentido se puder acrescentar à vida uma nova dimensão de prazer e entendimento. Mesmo que ela revire questões muito doídas da nossa existência. Ainda assim, o poeta só é, verdadeiramente, poeta se for capaz de transformar barro em ouro. Por isso, não basta que ele tenha apenas conhecimento técnico e aptidão para o seu ofício, é fundamental que ele tenha, em contrapartida, um repertório de vida singular, certa estranheza própria (ou tome emprestado de quem tem), que lhe confira uma sintaxe diferenciada, um jeito de dizer que agregue às palavras um novo ritmo, uma nova dança. Ser poeta não é desejo, é destino. Porque a temperança que contribui para transformar um indivíduo num ente que se dedique a produzir uma linguagem tão sofisticada, que não visa comprar ou vender, mas tão simplesmente dialogar com a alma humana num nível de sublime gratuidade, não pode ser a mesma que prepara uma pessoa apenas para lutar por um pedaço de pão. Vinícius de Moraes nos disse que "o poeta só é grande se sofrer," e independente de desejarmos o sofrimento para quem quer que seja, sabemos, perfeitamente, que não há mérito sem superação. Sendo assim, qualquer pessoa que, numa outra margem, pretenda aferir, classificar ou refletir sobre o produto de vivência tão esgarçada, tem que ser, também, capaz de mergulhar nesse rio de sutilezas.

Muitos confundem crítica, com a demolição do objeto criticado. Mas não podemos ver o outro em profundidade, se nossa sensibilidade está contaminada com um só objetivo: detoná-lo. Até para reprovar o que o outro faz, temos que fazê-lo com lealdade. Se não somos capazes de amar, não temos nada a propor. Amar é isentarmos da nossa própria mesquinhez.

Iracy: Observando às alterações profundas em seu modo de enfrentar a palavra e igualmente sua preocupação com a língua. Imagino que sua poesia deve nascer de uma dupla falta: uma falta sentida no mundo que se pretende suprir pela linguagem; a outra falta é a própria linguagem, que funciona em falta. Seguindo essa forma de pensar, a linguagem trava uma luta constante com as emoções discordantes e complementares. Esmerilhar a palavra é uma das saídas possíveis desse embate?

Palavra 2:
(...) delírio que assovia
para dentro
inventando o itinerário
do silêncio. (...) (p.61)

Salgado Maranhão:: Tomando como ponto de partida a afirmação de Oswald de Andrade de que, "só me interessa o que não é meu", toda busca é decorrente da falta. Isso na poesia em geral, e na minha em particular, está no centro da motivação. Minha vida pessoal é o próprio exemplo da busca de compensação na poesia, pela ausência de tudo. Nesse tipo de situação, quando há talento e a entrega é total, a poesia também se entrega. Porém, a partir daí, começa uma nova etapa de outra luta não menos ferrenha, a do ourives e as suas ferramentas a lapidarem o ouro da linguagem.

Iracy: Poeta, em outra conversa que tivemos você me falou: "Não é que a razão não esteja envolvida, mas ela não controla o impulso, pois se isso ocorresse, o texto seria lavado do húmus do coração, e não tocaria ninguém." Sei que a lucidez nunca matou a arte. É tida como a boa negatividade, sempre discreta e não obstrui no universo poético os espaços dos afetos e das imagens, assim como também dá à palavra um novo modo de enfrentar-se com os objetos. Mas lucidez demais atrapalha ao labor poético. O poeta vive para surpreender o instante. Como você equaciona, se é que equaciona essa questão, no momento em que está burilando as palavras?

Salgado Maranhão:: Em mim, o primeiro momento é o da vertigem. Algo me impacta e as palavras começam a jorrar uma melopéia deliciosa. Às vezes, eu nem sei o que estou falando, apenas sinto que estou sendo arrebatado pela poesia. A sensação é totalmente distinta da que sentimos quando produzimos um texto em prosa, mesmo que esse texto seja, também, fruto de um momento inspirado. Como eu tenho certa facilidade de memorizar, guardo os versos iniciais para desenvolver depois. Porque, o momento de epifania é só o começo, a partir daí, inicia-se outro labor seletivo que, não raro, desqualifica o que foi escrito antes. É nesse segundo estágio, da poda, que o poeta demonstra o seu refinamento, seu conhecimento da matéria. É, também, aí, nesse ponto, que o poema ganha forma na página em branco, o que na minha poética é de fundamental valia. Uma coisa é preciso que se saiba, na arte do verso, tirar é mais importante que botar.

Iracy: Poeta, você procura dar ao conjunto de sua obra uma direção, que evidencie um projeto poético?

Salgado Maranhão: Sim, é verdade, nos meus poemas, lanço mão de todos os meios possíveis para elevar ao máximo a turbinagem do poema. De um modo geral, eu trabalho de forma sistemática as três categorias do velho Ezra: a Melopéia (vi), a Logopéia e a Fanopéia. Para tornar um poema digno desse nome, há que se ter a argúcia de um ourives.

Iracy: Estive lendo Sol Sanguíneo. Sua poesia desacomoda, surpreende. Ensina a ler o que olhos distraídos não viram quando olharam. Mostra os gestos aprisionados na linguagem, uma existência plural. O impacto do significante é algo nada previsível. Poeta, as questões expressivas de uma obra são as mais importantes ou as relações que ela estabelece com o meio são inevitáveis para que a obra perpetue?

Salgado Maranhão: O grau de importância de uma coisa não é determinado apenas por quem a cria, mas, sobretudo, pela aceitação do outro. O ato de sentir ou perceber é solitário e pessoal, mas o de escrever é profundamente interativo. Toda vez que expressamos alguma coisa, estamos falando para alguém, mesmo que seja com entidade do outro mundo. No caso da poesia, não basta produzir uma obra excepcional se ninguém tomar conhecimento. Podemos dar o melhor de nós produzindo o que acharmos relevante, mas se, ainda assim, as pessoas não forem tocadas, nossos livros cairão no esquecimento. Para que uma obra sobreviva ao tempo, é necessário o interesse alheio através das gerações. Por mais genial que sejamos, o outro será sempre o nosso aval. Mesmo uma geração negando, se houver mérito, verdadeiramente, a outra ressuscita. Foi assim que Homero chegou aos nossos dias. Claro um poeta da estirpe de Homero jamais ficaria oculto. Há muitos casos de autores geniais que em vida passaram quase despercebidos, e de uma hora para outra, renascem das cinzas. Do mesmo modo, existem os excessivamente celebrados quando em vida, e renegados pelas gerações futuras. São os fornos do tempo que forjam o metal nobre.

Iracy:Poeta, José Saramago, escritor português, que também me captura, em algum momento de sua vida desejou que o homem que se tornou nunca envergonhasse a criança que foi um dia. Qual é o seu desejo, Poeta?

Salgado Maranhão:: Meu principal desejo, além de amar e ser amado, pois gosto muito de gostar, é continuar neste rio caudaloso das palavras, agarrado à sua cauda fugidia, seguir seguindo como um indomável pescador de sonhos, pulindo mais e mais o instrumento da minha voz, para cantar uma canção nova a cada dia. Quero morrer cantando feito uma cigarra no entardecer.


*   *   *

Nossos leitores receberam mais um presente, a versão de Jean-Claude Elias, de um dos poemas do livro Sol Sanguíneo (2002), dedicado por Salgado Maranhão a Cineas Santos e Sérgio Natureza. Ao final, a lista completa das obras do poeta.

Vamos ao canto:
Soleil de sang
(Rez-de-terre)

1.
Retourner à l’abri désolé
De la terre
rez.
Retourner aux limitrophes
De la palabre (larve fulminante
et fracas) qui assiste
de l’arrière-cuisine
au rapt de l’existence.

Retourner au sol atavique
où les fous
se rient
à l’ombre de la brume.

Et – barde– rompre
les bords,
déchirer l’hymen
du langage
qui capture
dans sa toile,
les citoyens de l’étonnement.

Ce qui meut la quête
est fulgurance d’incendie,
éclair invaincu
à féconder la roche.

Je dis ce qui s’inscrit
dans l’inabordable
comme la lune au lac
ailée

Je dis ce que disent
les crocs à l’heure des crotales

Retourner au fulminant fracas
de la parole.

*   *   *

Os livros de poesia publicados por Salgado Maranhão:

Punhos da serpente (Rio de Janeiro, Achiamé, 1989 );
Palávora (Rio de Janeiro, 7Letras, 1995 );
O beijo da fera (Rio de Janeiro, 7Letras, 1996 );
Mural de Ventos ( Rio de Janeiro, José Olímpio Ed.; Mogi das Cruzes – SP, Universidade de Mogi das Cruzes, 1998 ). 1998, Prêmio Jabuti 1999
Ebulição da Escrivatura (Antologia poética, 1978);
Encontros com a Civilização Brasileira (poemas e ensaios)
Aboio ou a Saga do Nordestino em Busca da Terra Prometida (cordel, 1984);
Sol sanguineo (2002)
Solo de gaveta (2005)
A pelagem da tigra (2009)
A Cor das Palavras. Imago: Fundação Biblioteca Nacional, (2009)


O CD Amorágio é o segundo do Projeto Poetas da Canção- produzido por Zé Américo Bastos, criando e coordenado por Sérgio Natureza-.com o apoio do SESC-Rj- Selo SESCRIO.SOM.

Por Iracy Conceição de Souza
Doutoranda Letras Vernáculas UFRJ

Agradeço à amiga e revisora de O Marrare Patrícia Ribeiro de Andrade ( SME/SEEEDUC)
pelas infindáveis revisões de meus artigos.


Leia também a entrevista do poeta à Iracy Conceição de Souza, publicada na  O Marrare - Revista da Pós-Graduação em Literatura Portuguesa.

Referências

Foto: Philippo Almeida.

(i)  Jorge Wanderley desenvolveu uma obra respeitável como poeta e tradutor de poesia. Traduziu, entre outros poetas, Valéry, Dante, Shakespeare, Borges e Lawrenc e lecionou literatura na UERJ até sua morte em 1999.

(ii)   Introdução dos desmandamentos

(iii)  8º desmandamento

(iv)   6º desmandamento

(v)    LORENZ,1983

(vii)  Na Grécia antiga, o tratado de composição, o conjunto dos princípios, das regras que regem a composição de melodias.

14 comentários:

  1. Professora Iracy,
    Essa entrevista está um espetáculo, como você mesma fala, ensina a ler o que olhos distraídos não viram sozinhos. Parabéns para você e sucesso. P Poeta está divino.
    Márcia, sua aluna da pós.

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  2. Poeta Salgado Maranhão e profª Iracy de Souza
    Sou jorge de Lima e li a primeira parte da entrevista.Estava muito boa, mas essa está um primor.Vejo que a senhora estuda a obra do poeta, estou preparando um projeto para tentar o mestrado, devo confessar que aproveitei muitas ideias de sua entrevista. Ao contrário de muitos, a senhora publica seus estudos, não guarda para si. Isso é muito bom e pelo visto o poeta é uma pessoa incrível.Estou plenamente de acordo com o Poeta, qd fala da demolição do objeto pela crítica. Parabéns para vocês!

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  3. Professora Iracy de Souza, sou economista morro de inveja de quem entende poesia. Me esforço, mas nada sei. Gosto muito de ler e suas entrevistas têm me ajudado bastante.O poeta é uma amor, procurei o livro para comprar, mas somente achei "Sangue sanguineo".Parabéns ao poeta pela poesia maravilhjosa!

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  4. Olá prof. Iracy, conheci vc no curos da pós, no sábado.Foi um prazer conhecê-la. Estava tão desmotivada.
    Me sentia tão mal ali e sai outra pessoa. Vc é ânimo, é postura, é responsabilidade. Não sabia que ia ler algo tão maravilhoso, qd falou q havia entrevista o poeta Salgado Maranhão, agora que li a primeira parte da entrevista e esta. Percebi q vc é de Deus. Vc soube conduizir as perguntas e a entrevista está leve e prende até o final. O poeta é maravilhoso com resposta simples e completas. Vou passar a acompanhar seu trabalho por esse site, que amuito bom tb.
    bjs
    Tereza Constantino

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  5. Que Bela entrevista! Poeta Salgado Maranhão se superou.
    Paulo

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  6. Professora fui seu aluno na pós da UERj. Fico feliz de ler seu trabalho e orgulhoso de ter sido seu aluno. O poeta Salgado Maranhão, dos mais brilhantes poetas da atualidade em nosso país. Gostaria de saber como encontro os livros do poeta. Obrigado e Parabéns a ambos!
    Mário

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  7. lúcia Mendes Ribeiro2 de agosto de 2011 às 14:25

    Fico feliz dessa parceria entre a crítica e o objeto de estudo. É tão complicada essa relação. Os teóricos são geralmente radiais. Mas creio q esse mérito é do próprio poeta e de sua obra, que soube conduzir tão bem respostas.
    Lúcia

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  8. Poeta, parabéns sua obra já traduzida para o francês, ingles. Li as três entrevistas da profª Iracy de Souza, sou professor tb e vejo que vc faz uma leitura muito boa da obra do poeta, deve estudá-lo a anos, pela facilidade como conduz as perguntas e faz com que o poeta se solte, voe nas respostas, que são quase versos também. Parabéns paela entrevista.
    Maurício

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  9. Professora Iracy, vc foi minha professora no primeiro período da UERj. Gostei muito de seu trabalho com o poeta. Não sabia que dominava a prosa e a poesia. Normalmente o se caminha por uma ou por outra. Parabéns para vcs, um trabalho que vai nos ajudar muito na faculdade.
    Isabelle

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  10. (em outra conversa que tivemos você me falou: "Não é que a razão não esteja envolvida, mas ela não controla o impulso, pois se isso ocorresse, o texto seria lavado do húmus do coração, e não tocaria ninguém.)Professora Iracy, onde está essa conversa que teve com o poeta Salgado Maranhão, está publicada em outro lugar? Não me lembro de ter lido na primeira parte ou em O Marrare? Vou deixar meu e-amil para vc entrar em contato comigo. Ok? Ah parabéns por estar tão pertinho do poeta e fazê-lo falar.
    Beth

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  11. Uma grandiosa entrevistas, verdadeira aula de poesia. Foi muto bom conhecer melhor o poeta, sua obra e seu pensamento. Realmente, é um dos grandes nos nossos tempos.

    Obrigado, Iracy, pelo trabalho!

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  12. Fiquei com gostinho pela poesia. Bonito trabalho e o mais importnate, embora digam que é para ajudar que estuda, essas entrevistas são para quem gosta de ler.
    Uma oportunidade de mandar um grande abraço ao poeta e parabenizar por seu jeito simples e complexo de ser.
    Aurora

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  13. Professora Iracy que belo trabalho. Sou Núbia da pós e conheci vc por esses dias, mas saimos comentando , eu e outros colegas, como vc é dinâmica e deu vida nova a um curso fadado ao fracasso. Um caractersística impar nos nossos dias. Agora vejo o pq, o convivio com poetas deve deixá-la assim: eternamente motivada.Que belo poeta estuda.Que bela leitura faz da obra dele e que belas resposta consegue do poeta, normalmente tão fechados em si. Dp q se consegue algo no mundo da glória, as celebridadespossuem esse mau hábito. Salgado parece bem docinho! Parabéns para vcs!

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  14. É grandíssimo o poeta, professora. Estou assombrado!



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